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terça-feira, 11 de novembro de 2008

AULAS NOVAMENTE SUSPENSAS

Estão novamente suspensas as aulas ministradas pelos professores do Departamento de Biologia (DB) da Universidade da Madeira (UMa). Mais de 160 alunos estão directamente afectados com a medida. Alunos interdepartamentais (ciências da cultura, arte e design, educação física e desporto, bioquímica, tecnologia) das cadeiras de 'introdução à biologia' e 'história do homem' (1.º ano). As aulas tinham começado no início do ano lectivo, foram interrompidas por ordem do reitor (despachos de 22, 24 e 26 de Setembro de 2008), retomadas a 28 de Outubro por ordem judicial de 23 de Outubro último e suspensas novamente sexta-feira passada, 7 de Novembro. Por imperativos legais, o processo cautelar de 30 de Outubro intentado pelo vice-reitor, António Brehm que pede a anulação da deliberação da comissão científica do DB, de Junho e Julho de 2008, sobre a distribuição de serviço docente, as aulas têm de ser suspensas.

O processo cautelar foi a contra-resposta de António Brehm ao processo ganho pelo DB e pela sua presidente, Graça Costa que pediu e viu o Tribunal anular os despachos do reitor que haviam suspendido as aulas por falta de homologação reitoral do serviço docente. Assim decidiu o Tribunal porque à luz dos regulamentos em vigor, a distribuição de serviço docente não necessita da homologação do reitor.

Inconformado, António Brehm demanda agora a comissão científica do DB (onde têm acento todos os 14 docentes doutorados do DB) e a sua presidente pedindo a suspensão da deliberação de 12 de Junho de 2008, em todas as suas versões.

No mesmo dia em que deu entrada a acção (30 de Outubro), o Tribunal ainda questionou a petição sobre uma eventual caducidade. É que, o acto impugnado tem data de 12 de Junho sendo que o prazo legal para o impugnar é de três meses (caducaria a 12 de Setembro). No mesmo dia (30 de Outubro), António Brehem veio ao processo dizer que o prazo para impugnação só conta a partir do momento em que teve conhecimento da deliberação da comissão científica (7 Agosto 2008).

No dia 31 de Outubro o Tribunal indeferiu o pedido de citação prévia (quem deve ser demandada - entidade requerida - é a própria UMa, através do DB) que foi citada a 3 de Novembro (carta recebida a 5 de Novembro).

Departamento culpa reitoria

Em comunicado com data de 7 de Novembro, a que tivemos acesso, o DB afirma que "tudo fará para que o normal funcionamento do Departamento, dentro das regras e leis em vigor, seja uma realidade, não se compadecendo com interesses pessoais e corporativos pouco claros, que apenas pretendem denegrir o bom nome e afectar o normal funcionamento desta instituição".

O comunicado assinado por Graça Costa aponta o dedo a Pedro Telhado Pereira e António Brehm acusando-os de estarem "a lesar o interesse público, causando prejuízos irreversíveis aos alunos, lesando os seus legítimos direitos e impedindo os professores de exercerem a sua missão de docência, consagrada nos Estatutos da Carreira Docente Universitária".

Ao DIÁRIO, Graça Costa continuar a afirmar que a distribuição de serviço docente é válida à luz das regras em vigor (não vale a pena invocar os novos estatutos, novos regulamentos, novos órgãos, nova orgânica) e repudia as ameaças veladas (como por exemplo um 'mail' de 16 de Setembro de António Brehm) sobre a eventual extinção do DB.

Para a docente, a extinção do DB não se fará por ameaça mas por imposição orgânica uma vez que o DB passara a integrar o Centro de Competências "Ciências da Vida" (juntamente com o Departamento de Ciências da Saúde).

Alunos ameaçam processar

Contactado pelo DIÁRIO, o presidente da Associação Académica (AAUMa), Luís Eduardo Nicolau disse que os alunos estão apreensivos e agastados com esta situação inédita no país que nem o processo eleitoral para a Reitoria deve justificar. "Não podemos deixar que problemas pessoais entre professores envolvam também os estudantes", disse.

Mais do que o facto de alguns alunos serem trabalhadores estudantes (pedindo dispensa às entidades patronais para frequentar aulas agora suspensas), Luís Nicolau pede que as aulas sejam retomadas o mais rapidamente possível. "Já tomamos as diligências necessárias para que isso aconteça", disse.

O presidente da AAUMa escusou-se a tomar posição sobre os processos judiciais em curso e lamenta que os alunos sejam vítimas de uma situação que não lhes diz respeito. Lembra que pagam propinas por aulas que não estão a ser ministradas (9.ª semana sem aulas num semestre que tem 20) , teme que o plano curricular não seja cumprido, teme pela imagem da UMa no exterior e lembra que os alunos podem processar a UMa pedindo uma indemnização pelos prejuízos causados.

"O problema não se resolve porque a presidente do departamento não quer"

"Não me arrependo, voltaria a fazer exactamente o mesmo". António Brehm, vice-reitor e professor catedrático do Departamento de Biologia, faz questão de lembrar que não o primeiro a recorrer aos tribunais e às providências cautelares. Quem abriu o precedente foi a presidente do Departamento, a professora Graça Costa. "E é a presidente do Departamento que não quer resolver o assunto, que não ouve ninguém a não ser o grupo que a ampara".

A suspensão das aulas - que segundo António Brehm abrange apenas os nove alunos do curso de mestrado - "é em defesa da qualidade do ensino na Universidade da Madeira". O grupo contestatário opõe-se à distribuição de cadeiras do mestrado e acusa Graça Costa de fazer poupança nas propinas à conta da qualidade das aulas. "É certo que se entregue a um professor de Botânica uma cadeira de Sistemas de Informação Geográfica? É o mesmo que me dar a mim - que sou de Genética - uma cadeira de Física Atómica".

António Brehm garante, no entanto, que esta questão se resolvia com uma reunião de 30 minutos, mas tal não vai acontecer porque a presidente do Departamento "está autista, só ouve o grupo que a ampara e está aproveitar-se do momento para virar o caso contra a reitoria". As eleições para o conselho geral estão à porta e entre os apoiantes de Graça Costa está o geólogo Domingos Rodrigues. Segundo o vice-reitor, este professor tem objectivos eleitorais.

"Garanto-lhe que toda esta celeuma se desvanece a seguir às eleições, quando já não interessar atirar para a reitoria". Até lá, o caso fica entregue aos tribunais e caberá ao juiz decidir se é certo ou não alguém de Botânica dar Geografia. M.C.
Fonte: DN

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