A Madeira dispõe de 26 Polos de Emprego, criados em todos os concelhos, através do Instituto de Emprego da Madeira. Estes organismos ajudam de uma forma mais próxima os utentes, o IEM a combater o desemprego, a motivar e orientar os desempregados para a procura ativa de emprego.
No final de agosto, estavam registados 20.770 desempregados no Instituto de Emprego da Madeira. Um número demasiado elevado para que os técnicos do IEM consigam acompanhar de forma personalizada cada um dos utentes, chamando-os logo pelo seu nome próprio. Com efeito, e das várias medidas de emprego desenvolvidas pelo IEM, numa ótica de atender de forma mais personalizada os utentes, de aproximar os desempregados ao serviço e a um conjunto de respostas personalizadas de combate ao desemprego, o IEM lançou, no ano passado, a medida “Polos de Emprego”, uma versão mais avançada dos antigos Clubes de Emprego, dinamizados por várias associações, casas do povo e juntas de freguesia, por exemplo. Segundo Rita Andrade, presidente do instituto tutelado pela Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais, atualmente, a Região conta com 26 espaços desta natureza, sendo que seis foram criados este ano, e os restantes eram anteriormente clubes de emprego. Para estes polos, o IEM tem previsto um orçamento total para este ano de aproximadamente 457 mil euros. «Este é um grande investimento por parte do IEM e que traduz a preocupação da tutela em disponibilizar a toda a população desempregada da região um serviço próximo e personalizado na área do emprego», sublinhou Rita Andrade. Quanto ao papel dos polos de emprego, estes são «verdadeiras extensões dos serviços de emprego, minimizando assim as dificuldades de acessibilidade dos desempregados aos serviços de emprego». De um modo geral, «funcionam como unidades de apoio à inserção ou reinserção de jovens e adultos desempregados, no mercado de trabalho, em estreita cooperação e articulação com o IEM, através do Centro de Emprego», explicou ainda.
ADAPTAR-SE A NOVAS REALIDADES
«Nesta descentralização do IEM e aproximação do serviço aos desempregados, a zona norte da ilha não foi esquecida tendo sido criados os Polos de Emprego do Município de São Vicente e da Associação Santana Cidade Solidária. O Porto Santo, que apenas possuía serviços de emprego assegurados pelo Posto de Atendimento ao Cidadão, criou um Polo de Emprego na Direção Regional de Administração Pública do Porto Santo permitindo dotar a população desempregada do Porto Santo de um serviço mais personalizado no apoio ao processo de procura de emprego», reforçou a responsável pelo IEM. No geral e como realçou, para além dos polos de emprego, existem outras de apoio ao desempregado. Contudo, Rita Andrade também sensibilizou que a procura por emprego tem de ser proativa, ainda mais num mundo laboral que mudou drasticamente nos últimos anos. A presidente do IEM disse que o desempregado deve apostar na sua formação, aproveitar as iniciativas que o IEM e os Polos de Emprego disponibilizam nesse sentido. Deve também ter a consciência de que tem de estar recetivo a propostas de trabalho em áreas que não são as que trabalhou e adaptar-se a elas.
TRATAR O DESEMPREGADO PELO NOME PRÓPRIO
A Investimentos Habitacionais da Madeira (IHM) é uma das entidades promotoras dos polos de emprego, desta feita, a funcionar no Bairro da Nazaré. Coordenado por Mara Rodrigues, este organismo abrange a freguesia de São Martinho e tem como principal missão o atendimento personalizado a cada um dos 140 utentes ativos do polo que, no início do ano contava com 189 utentes, sendo que 49 estão atualmente a trabalhar. Esta política tem dado bons frutos. O utente sente-se valorizado, com mais ânimo para a procura de emprego, porque tem quem o oriente melhor. Mara Rodrigues refere que acompanha situações de desespero, por parte dos desempregados de longa duração. Uma das soluções encontradas pela presidente da IHM, Nivalda Gonçalves, foi a criação de equipas de limpeza e de manutenção de bairros. Foi através desta medida que muitos dos desempregados com mais de 50 anos conseguiram aderir ao Programa de Ocupação Temporária de Desempregados (POT). A implementação do polo de emprego na Nazaré deveu-se ao facto de haver muitos moradores no desemprego, para além de ser o maior complexo habitacional da IHM. A missão do polo é facilitar a reinserção de jovens e adultos no mercado de trabalho, através do acompanhamento individual do utente, que tem ajuda para a elaboração do currículo, carta de apresentação, encaminhamento para ofertas de emprego, apoio para a pesquisa de ofertas de emprego. «Este é um bairro onde a maioria das pessoas não tem internet ou computador. Nós ajudamos nisso, acompanhamos o utente até ele encontrar emprego». Este organismo presta ainda ajuda ao nível do encaminhamento dos utentes em graves dificuldades económicas para apoios sociais. «Através das parcerias que nós temos com entidades locais, temos conseguido articular apoios diversos, nomeadamente na alimentação». Mara Rodrigues conta que um utente, que foi ao polo pedir emprego, já não comia há três dias, porque o pouco que tinha era para os filhos. Hoje em dia, conta com o apoio alimentar da Paróquia da Nazaré. Ou seja, o polo de emprego, pela proximidade que cria com os utentes, acaba por ter um papel interventivo noutras áreas sociais, que não apenas a basilar.«O grande objetivo do polo é a inclusão social dos utentes, mas até encontrar emprego, há uma série de situações que precisam de ser colmatadas. Uma pessoa à fome não tem disponibilidade para procurar emprego, nem faz sentido promovermos sessões de procura de emprego com uma pessoa que está sem comer há dois dias». Quanto à vertente do apoio à reinserção no mercado de trabalho, o que os utentes valorizam é o atendimento personalizado que os polos de emprego oferecem, por abrangerem menos pessoas que o IEM. «Sentimos que tratá-los logo pelo nome quando eles chegam é importante para eles». Na ponte que é feita entre as ofertas de emprego, as empresas e o IHM, a faixa etária que sente mais dificuldades é acima dos 45 anos. Mas, a par disso, Mara Rodrigues admite que há algum estigma em relação às pessoas do bairro da Nazaré. «Já tivemos pedidos de empresas para desempregados de São Martinho mas não do bairro», revela, acrescentando que essa discriminação não é permitida. Por outro lado, e como na IHM há uma equipa de inclusão social diversificada da qual faz parte, Mara Rodrigues tem o «privilégio» de conhecer não só os utentes mas os seus filhos, ajudando-os no reingresso escolar e no combate ao absentismo escolar, acompanhando ainda casos relacionados com alcoolismo. O contacto com o utente extravasa o espaço físico do polo de emprego, que vai à rua, vai ao bairro. E é uma mais-valia para o conhecimento da realidade do utente e do perfil deste para a procura de trabalho. Todos os desempregados inscritos nos polos de emprego da Região estão registados no portal Empregar, que também conta com a inscrição dos empregadores. Os polos ajudam na ligação entre os desempregados e as empresas, porque já fizeram a parte do diagnóstico e avaliação profissional e vocacional dos utentes. Mara Rodrigues defende que os desempregados devem inscrever-se nos polos da sua área de residência. Muitas vezes, os utentes já “bateram em todas as portas”, e pensam em desistir. «Nós temos o papel de lhes mostrar que não podem. Um técnico de um polo de emprego é quem nunca desiste do desempregado mesmo que ele já tenha desistido de si próprio».
TRABALHAR NA MOTIVAÇÃO
Outro polo visitado pelo JM foi o da Casa do Povo do Campanário, criado em janeiro. Coordenado por Débora Figueira, ajuda 112 utentes. Destes, a maioria dos homens trabalhava na construção civil. Das mulheres, muitas procuram emprego nas limpezas ou como ajudante de cozinha. Tem ainda alguns jovens que acabaram o ensino secundário. A responsável também encaminha para as oportunidades de estágios profissionais do IEM, sendo que 60 por cento dos jovens inscritos no polo conseguiram colocação. Em relação aos desempregados de longa duração, estes «temem não conseguir trabalho. A maioria dos utentes têm mais do que 40 anos e são maioritariamente da construção civil e, como sempre trabalharam nessa área, não conseguem ver em que outra podem trabalhar». A responsável confessa que a sua maior dificuldade é convencê-los a se inscreverem em alguma formação, «já que temem em investir novamente neles próprios, porque têm a auto-estima muito baixa. O nosso trabalho passa muito pela motivação». «A psicologia positiva» é importante. «Eles precisam de se sentir valorizados. Quando as pessoas entram cá, já sei o seu nome e isso faz diferença», refere Débora Figueira. O seu trabalho também consiste em fazer a ponte entre as empresas que querem contratar e os desempregados e ver como inseri-los. A dificuldade em empregar também se prende como perfil pedido pela empresa, que quer quem tenha até 30 anos, que saiba inglês, capacidade de fazer horário rotativo, por exemplo. «Cria-se uma barreira também difícil de transpor. Ou seja, pode haver tantos desempregados, mas não há tantos para o perfil pretendido». Questionada sobre se tem conseguido incentivar os utentes à procura ativa de trabalho, a responsável admite que «eles continuam a ter essa dependência». Mas, participam nas formações desenvolvidas para procura ativa de emprego. «Noto que o espírito deles tem mudado um pouco»,apesar de sentir que «há uma necessidade de lhes moldar a mentalidade no sentido de não esperarem que lhes acabe o subsídio para procurar trabalho». Nas reuniões que promove, Débora Figueira tenta motivá-los, mostrar que «estão todos na mesma situação, não têm de ter vergonha». Recorda que um utente que estava desempregado, conseguiu inserir-se no mercado de trabalho e, como a empresa precisava de outras pessoas, lembrou-se de um outro participante de uma sessão de formação e acabou por haver trabalho para os dois. Débora Figueira diz que, da sua parte, «é muito gratificante trabalhar com esta população. Gostávamos de mudar o mundo, mas não é fácil. Se conseguirmos mudar a vida de uma pessoa já estamos a mudar o mundo».
MAIOR DESAFIO NO PORTO SANTO
Com desafios acrescidos, dada a dupla insularidade e à baixa oferta de emprego, está o Porto Santo. Desde 22 de julho, a ilha dourada passou a dispor de um polo de emprego, criado pela Direção Regional de Administração Pública. Segundo a coordenadora do polo, que lida com 29 utentes ativos no polo, as ofertas de trabalho no Porto Santo são «poucas», havendo mais na época do verão, o que significa que o emprego no Porto Santo sofre também com a sazonalidade. Eduína Rodrigues explicou que, em relação ao perfil dos inscritos, a maior parte é masculina, com idades a partir dos 40 anos, trabalhava antes na construção civil, na jardinagem, em cozinha e na restauração. Instada a explicar como pode o polo ajudar numa ilha com baixa empregabilidade, Eduína Rodrigues referiu que o organismo, como é ainda muito recente, está a estudar de que formas poderá ajudar a população desempregada. Serão dadas formações na procura ativa de emprego, haverá a realização de ações desensibilização para a procura noutras áreas profissionais do que as que os utentes trabalhavam. «O objetivo é fazer com que as pessoas adquiram a capacidade necessária para trabalharem noutras áreas, para saírem da sua zona de conforto e tentar novos desafios, novas áreas, até porque as oportunidades de trabalho no Porto Santo são escassas». O polo de emprego do Porto Santo tem também por missão informar os utentes sobre os diversos apoios, estágios e oportunidades de trabalho não só na ilha, como ao nível de projetos na Europa, esta numa vertente mais dirigida aos jovens. «Temos como trabalho orientar os utentes na procura de oportunidades».
JM
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